Neste romance, um pintor frustrado, amargurado e excêntrico, mantém ao seu redor uma reduzida plateia de seres mudos, submissos e escondidos na sombra. Inês, velha senhora suave, sensível, sempre de olhos e coração abertos para as pequenas belezas da natureza, mas irremediavelmente só. Raimundo, sombra de homem confinado a uma cadeira, desesperançado e triste, em companhia de suas reminiscências. Rufino, anão de meia-idade, dolorosamente consciente de suas limitações, à procura da beleza e da juventude em outros corpos. A entrada de Zaida e Daniel, com sua alegria e juventude, neste universo de seres semimortos, representa uma possibilidade de vida que rompe a ordem estabelecida.
Uma história que se movimenta em mistérios que se sobrepõem e enovelam e que, por sua força metafórica e densidade lírica, nos aproxima dos clássicos no gênero, das narrativas curtas e cruéis de um Poe, de um Villiers de L’Isle Adam ou de um Hemingway, cujo nível simbólico é por vezes insondável mas permanente.